Nos últimos anos, Portugal esteve sujeito a um programa de ajustamento económico e financeiro e a uma austeridade que conduziram ao empobrecimento generalizado do País e dos seus cidadãos e que atingiram, sempre e em primeira linha, os rendimentos dos trabalhadores, dos reformados e dos pensionistas e puseram em causa o próprio Estado Social.
Num momento em que o actual Governo procura efectuar uma mudança de rumo das políticas, introduzindo uma componente social na estratégia governativa e vindo confirmar que é possível compaginar os compromissos assumidos em matéria de redução do défice orçamental, com políticas que fomentem o crescimento e o emprego, surgem novamente pressões externas exigindo mais austeridade económica e sobre o mundo do trabalho – desregulação, flexibilização, ataque à negociação coletiva e ao diálogo social.
Num momento em que o novo quadro em Portugal criou uma onda de esperança nos trabalhadores, ansiosos pela reversão da perda de um conjunto de direitos, pela redução do desemprego, pela melhoria das suas condições de vida depois de anos de sacrifícios impostos, as instituições externas, por via de constantes pressões e declarações de altos responsáveis da União Europeia e de alguns governos, põem em risco um dos mais importantes factores para o crescimento e desenvolvimento do País, a confiança – das pessoas e das empresas.
Para a UGT é totalmente inaceitável que, mesmo quando são reconhecidos os problemas vivenciados por Portugal, muitos dos quais resultaram das políticas que nos foram impostas pelos credores internacionais, e quando os próprios responsáveis por aqueles organismos credores admitiram os erros das suas políticas (vide FMI e Presidente do Eurogrupo) se continue a defender, de forma pouco consistente e até incongruente, o mesmo tipo de ajustamento e o mesmo tipo de soluções.
Não podemos assim deixar de expressar a nossa profunda rejeição à insistência de vários actores e responsáveis políticos europeus, apostados em aplicar sanções a Portugal, por incumprimento do Tratado Orçamental, quando o Governo português continua empenhado em sair do procedimento do défice excessivo, ainda este ano, e quando se conhecem antecipadamente os seus efeitos contraproducentes, indo não só aprofundar os problemas sociais e as injustiças, como pôr em risco o próprio processo de recuperação económica.