quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Seminário Internacional
O DIÁLOGO SOCIAL PELA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
Estratégias de intervenção e concertação para o desenvolvimento e o emprego

Lisboa,  28 e 29 de outubro de 2014
Este seminário realizou-se para aprofundar e defender o diálogo social pela educação e formação como uma questão estratégica para a promoção e sustentabilidade do emprego em Portugal.

No decurso dos trabalhos, os convidados sublinharam que importa ultrapassar o que foi considerado como uma fase que tem sido caracterizada pela preocupação maior em enunciar princípios e em promover produção legislativa que não raras vezes tem tido poucas consequências ou mesmo tem sido marcada pela sua reduzida duração. Assim, foi considerado necessário entrar num ciclo que dê concretização aos compromissos assumidos, para além de que se torna essencial instalar instrumentos e ações de monitorização e de avaliação permanente para a introdução das adaptações que a prática venha revelar necessárias.


Foi considerado, por outro lado, que o estabelecimento dos necessários consensos e compromissos não é tarefa simples e rápida, pelo que se devem respeitar os tempos indispensáveis à sua construção, com vista à mobilização de todos os atores para se atingirem os efeitos pretendidos.

Este seminário registou também intervenções que assinalaram que, apesar do forte investimento realizado em Educação e Formação ao longo das últimas décadas, e da alteração significativa de vários indicadores dentro desta área, continuamos com níveis de qualificações médias inferiores às da generalidade dos países da União Europeia.

Como bem assinalou o documento de orientação estratégica aprovado pelo Congresso da UGT, em 2013, “o défice de qualificações dos trabalhadores portugueses continua a ser um dos problemas estruturais com que o nosso País se confronta, constituindo um obstáculo não apenas à competitividade das empresas, em que a capacidade técnica continua a ser reduzida e em que o nível médio de qualificações é baixo, mas igualmente a uma modernização do País, a uma melhor adequação às necessidades do mercado de trabalho e a uma efetiva valorização das carreiras profissionais.”

Nestas circunstâncias, foi considerado essencial que se proceda a um diagnóstico de necessidades de formação que oriente os alunos e formandos para as áreas realmente necessárias. É que, como foi sublinhado, não existe uma eficaz orientação vocacional, nem uma adequada articulação entre os vários serviços de orientação vocacional e profissional dos jovens, com vista a um encaminhamento mais eficiente.

Foi reconhecida pelos oradores intervenientes a necessidade de um esforço convergente, no sentido da valorização do ensino profissional, retirando-lhe o estigma que às vezes o associa ao insucesso escolar ou à ausência de impacto em termos salariais ou de desenvolvimento de carreiras.

Por outro lado, os convidados a este seminário sublinharam que num tempo que é marcado pela emergência de uma sociedade de competências é fundamental garantir um esforço consistente, no sentido de uma lógica de formação ao longo de toda a vida, nas mais diversas formas que pode assumir, incluindo a necessidade de antecipar novas competências para o mercado laboral.

Foi também assinalado que é necessário aprofundar a ligação do ensino superior com o mundo empresarial e vice-versa, quer em termos de troca de informação, quer em termos de acompanhamento da investigação, quer ainda ao nível do ajustamento das ofertas educativas à evolução do mercado laboral.

O seminário assentou nas orientações que o documento de orientação estratégica da UGT, aprovado em 2013 pelo seu Congresso, nomeadamente quando aí afirma que “A matéria da formação foi objeto de acordos bipartidos e tripartidos, os quais contêm várias medidas cuja implementação e execução vêm sendo sucessivamente adiadas. O compromisso tripartido de janeiro de 2012 não é exceção, contendo novas medidas e reiterando medidas de anteriores acordos, cuja execução tarda.

Mais, verificamos que, em simultâneo, são adotadas medidas que não respondem aos desafios do emprego e da melhoria de competências e mesmo a uma confusão das políticas do Governo nesta área, com exclusão dos parceiros sociais nas sedes responsáveis pela definição das mesmas.

O direito à formação, consagrado legalmente para todos os trabalhadores, continua a não ser efetivado, e a reduzida aposta dos empregadores nas qualificações dos seus trabalhadores continua a ser notória, sobretudo no quadro das pequenas e médias empresas, que constituem a maioria do nosso tecido empresarial.

Por outro lado, a política nacional tem de colocar uma forte tónica no facto do reconhecimento e certificação de saberes e competências já adquiridos poderem constituir um excelente triângulo de estímulos, mormente na procura de mais educação e de mais formação, por parte dos cidadãos, na aquisição de maiores níveis de empregabilidade e na promoção de mais oportunidades, num contexto de aprendizagem ao longo da vida.

As preocupações da UGT centram-se ainda em outros desafios estratégicos, como são o caso de um consenso político quanto a uma aposta na melhoria do sistema educativo e de formação em Portugal; a delineação de um plano de desenvolvimento educativo e respetiva monitorização.”

O mesmo documento assinalava que “Os jovens, particularmente atingidos pelo desemprego, não obstante estarmos perante a geração com o mais elevado nível de qualificações, continuam a vivenciar dificuldades de integração no mercado de trabalho, desde logo pela insuficiente criação de emprego, mas também em virtude de alguma desadequação das suas habilitações às necessidades do mercado de trabalho, o que exige não apenas a criação de programas que garantam o contacto e a transição para o mercado de trabalho mas também uma maior aposta na requalificação.

É por isso que a organização deste seminário considera que a sua concretização permitiu dar ainda mais consistência às reivindicações que a UGT claramente definiu nos seus documentos orientadores, aprovados em Congresso, nomeadamente:
  • Apostar na melhoria da qualificação dos portugueses, quer em termos de formação inicial, quer de formação contínua, quer de requalificação, o que deve estar salvaguardado pela afetação de recursos adequados, nomeadamente ao nível do Orçamento de Estado;
  • Assegurar o direito à formação contínua dos trabalhadores, nomeadamente à reconversão profissional urgente perante as novas necessidades de competências de uma estrutura produtiva bastante diferente, para o que é indispensável que as Empresas se disponibilizem para investir num espírito favorável a esta atitude;
  • Melhorar a atividade dos Centros de Formação Direta e de Gestão Participada;
  • Defender o pleno funcionamento do Sistema de validação, reconhecimento e validação de competências (novos Centros para a Educação e o Ensino Profissional - CQEP), quer na vertente escolar quer na profissional (dupla certificação);
  •  Defender a melhoria dos instrumentos europeus de reconhecimento e certificação das qualificações, com o envolvimento ativo dos parceiros sociais, no quadro da mobilidade de trabalhadores no espaço comunitários, mediante a rápida e efetiva implementação das ferramentas europeias de transparência e qualidade;
  • Estabelecer um normativo que seja capaz de harmonizar e dar coerência ao conjunto de todas as ofertas formativas, clarificando o papel dos vários atores e ajudando no desafio que a sociedade deve assumir para a valorização e sensibilização da importância do ensino profissional junto dos jovens e respetivas famílias.
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Lisboa, 29 de outubro de 2014

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