terça-feira, 27 de janeiro de 2015

AUSCHWITZ NUNCA MAIS

Há 70 anos foi libertado o campo de concentração mais associado ao extermínio dos judeus
pelo regime nazi. Mas demorou anos até haver uma compreensão generalizada de que os
judeus tinham sido vítimas de um genocídio.
A 27 de Janeiro de 1945 o Exército Vermelho entrou em Auschwitz.
Não estava preparado para a sua libertação.
Quando entraram em Auschwitz, nesse dia fatídico de 27 de Janeiro de 1945, encontraram um local 
onde foram mortas 1,5 milhões de pessoas e que se tornou num testemunho da crueldade nazi, mas
que só ao longo dos anos se transformou num símbolo do Holocausto dos judeus.
Nos seus mapas, de antes da guerra, nem sequer constava este extenso campo de morte e de 
trabalhos forçados do regime nazi. “Demos por acaso com o campo de extermínio”, recordou o
 tenente Vasili Gromadski, da 100.ª Divisão de Atiradores, que participava na ofensiva do
 Vístula-Oder, que havia de chegar a Berlim no fim de Abril de 1945.
 “Vi muitas coisas horríveis e de pesadelo nesta guerra, mas o que testemunhei em Auschwitz
 ultrapassa a imaginação”, escreveu o militar soviético Georgi Elisavestski numa carta à mulher, 
quando já era comandante do campo, depois do Exército Vermelho ter assumido o controlo.
“Imagina um complexo prisional, rodeado por campos mais pequenos, com capacidade para 
60 mil a 80 mil pessoas, vindas de toda a parte do mundo. Ver o estado das pessoas que aqui
 ficaram – e compreender o que se passou aqui – é suficiente para perder o juízo”, 
confessava Elisavestski, citado no livro Total War – From Stalingrad to Berlin, de Michael Jones
 (John Murray, 2011). “Encontrámos as ruínas de quatro fornos crematórios, com capacidade
para queimar milhares de pessoas diariamente”, relatava o oficial. “Traziam os prisioneiros para
 o que chamavam ‘descontaminação.’ Forçavam-nos a despir-se e a ir para uma sala na cave, onde
 havia chuveiros. Quando estava cheia, fechavam as portas e lançavam gás. Após 10-15 minutos, 
traziam os cadáveres para os crematórios."
O que o Exército Vermelho encontrou ao entrar em Auschwitz, após enfrentar feroz resistência
 nazi – o campo era secreto, e era segredo de Estado o que o regime estava a fazer aos judeus –,
 chocou soldados que pensavam já não poder ser surpreendidos. Além de pessoas que eram
 apenas esqueletos, crianças usadas para experiências científicas, descobriram toneladas de
 cabelo humano – para usar na indústria têxtil – e de roupa, sapatos e objectos pessoais em 
ouro, que incluíam dentes, que seriam enviados para a Alemanha. Eram coisas que punham os 
soldados a chorar. “Tinha visto pessoas enforcadas, pessoas queimadas. Mesmo assim não
 estava preparado para Auschwitz…”, recordou Anatoli Shapiro, comandante do 1085.º Regimento
 do Exército Vermelho, o primeiro a entrar no campo.
“Vimos logo as fileiras de casernas. Abri a porta de uma. O fedor era insuportável. Era uma
 caserna feminina, e havia poças de sangue congeladas no chão, e cadáveres no chão. E lá pelo
 meio havia ainda pessoas vivas, seminuas, vestidas só com roupa interior fina – em Janeiro! Os
 meus soldados recuaram, horrorizados. Um deles disse: ‘Não consigo suportar isto. Vamos sair
 daqui. Isto é inacreditável!’”
Mas os soldados insistiram, continuaram a abrir as casernas e a descobrir “pessoas
 emaciadas, brutalmente torturadas”, na descrição do tenente Ivan Martinushkin. “Já não 
pareciam pessoas”, disse o sargento Genri Koptev. “Tinham uma pele tão fina que se podia ver
 as veias e os olhos estavam salientes, porque os tecidos à volta tinham desaparecido. Quando 
esticavam as mãos, podia-se ver cada osso, cada tendão e articulação. Sentimo-nos tomados 
pelo terror. Ninguém nos tinha preparado para isto.”
Ninguém acreditava
Na verdade, ninguém estava preparado para Auschwitz. Estaline, o líder soviético, teria
 informação sobre o que ali se passava desde o ano anterior, quando o Exército Vermelho 
tomou o campo de extermínio de Madjanek, um dos locais onde começou a ser posta em 
prática, em 1942, a “solução final” para a “questão judaica. Este eufemismo designa o extermínio,
 puro e simples, de todos os judeus. Mas o líder comunista não disse nada sobre Auschwitz ao
 marechal Ivan Konev, que liderava a I Frente Ucraniana, o exército que tomou o campo.
A narrativa oficial da história soviética da II Guerra impunha o dogma de que a nação russa fora 
a mais sacrificada, a maior vítima e a maior vencedora, no seio da URSS, afirma o historiador
 norte-americano Timothy Snyder no livro Terra Sangrenta – A Europa entre Hitler e Estaline 
(Bertrand, 2011).
O resto dos Aliados e os líderes mundiais olhavam a guerra como um todo. As informações
 sobre os campos de concentração eram escassas e classificadas ao nível de boatos. As chancelarias
 e a imprensa estavam de pé atrás por causa dos abusos da propaganda na I Guerra Mundial.””
(in Público online, por Clara Barata)

No dia da sua primeira reunião do ano 2015, realizada em Lisboa em 29 de Janeiro, na sua 
sede, o Secretariado Nacional da UGT presta homenagem aos milhões de homens e 
mulheres assassinados pelo horror nazi, honrando a sua memória e rejeitando a barbárie e o 
extermínio de que foram vítimas devido às suas crenças, raças e preconceitos.
70 anos depois, nunca é tarde para relembrar a insanidade de uma guerra que, mais do que uma 
violência inaudita e cruel, que ceifou mais de 40 milhões de vidas, provocou o infortúnio, o 
sofrimento, a dor, a humilhação do Homem pelo homem, e a separação para sempre de 
milhões de famílias e dos seus entes mais queridos.
São muitos os adjectivos para classificar tal loucura humana.
São também muitos os motivos para justificar que o Holocausto não se repita na história da
 civilização humana.
E continuam a existir motivos para apoquentar as nossas preocupações, quando olhamos 
para a intolerância religiosa dos nossos dias e para que, em nome da religião, se cometam atrocidades
 sem fim.
Em nome da dignidade do Homem, do respeito, da solidariedade, da Democracia e da Liberdade, 
importa que não esqueçamos AUSCHWITZ e todos os campos, lugares e sítios onde não se
 pratica a Humanidade.

Lisboa, 29 de Janeiro de 2015


O SECRETARIADO NACIONAL

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